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Novamente devemos começar por dissipar a confusão do significado entre lamentar e chorar. A benção sobre esta Bem-aventurança, ‘aqueles que choram’, não implica que o cristão deve ser eternamente melancólico ou que deve estar sempre chorando. Jesus não está falando da pessoa que está naturalmente triste ou que anda um pouco abatida e murmura constantemente com suas palavras.

Este não é o tipo de pranto que é fruto da auto piedade, como quando as pessoas choram por causa da insatisfação com o seu trabalho, com a aparência ou com muitas outras coisas na vida. Este pranto não é o produto de uma perda, seja material ou relacional em sua natureza. Não é um pranto de opressão de um homem que chora amargamente porque não pôde satisfazer a sua lascívia ou de quando nós lamentamos a ausência de alguns bens terrenos que cobiçamos. Veja o que diz também em Mateus 6.16: “E, quando jejuardes, não vos mostreis ‘contristados’ como os hipócritas; porque ‘desfiguram’ os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam.”

Cristo não está fazendo alusão também ao desespero. Judas Iscariotes reconheceu o seu pecado, mostrou-se arrependido, fez a confissão e até restituiu as poucas moedas, mas não chorou como Jesus tinha em mente. Há uma diferença entre o desespero e a tristeza espiritual. O primeiro não olha para Cristo, mas para si mesmo. O segundo não tem olhos senão para a misericórdia e o perdão oferecidos por Jesus.

Também não é o tipo de pranto que lamenta as consequências mais do que o crime, a pena mais do que o pecado. Vejamos o que Jesus tinha em mente ao dizer: “Bem aventurados, os que choram”.

Esta é a contrapartida espiritual da pobreza de espírito. Uma coisa é ser espiritualmente pobre e reconhecer, outra é lamentar e chorar por causa disso. Confissão é uma coisa, contrição é outra. Temos que fazer mais do que reconhecer a nossa falência espiritual, temos que agonizar sobre o pecado. Temos que prantear por conta das nossas constantes fraquezas. Este não é o pranto de tristeza, mas de arrependimento. É o sofrimento sobre o pecado pessoal. “Então disse eu: Ai de mim, que vou perecendo! Porque eu sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios. E os meus olhos viram o rei, o Senhor dos Exércitos!” (Isaías 6.5). “Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?” Romanos 7.24. É a tristeza pelos pecados particulares e secretos (aqueles que só você e Deus sabem que existem), não simplesmente pelos pecados geralmente visíveis. Quando um homem está doente, ele não diz ao médico: “Eu não me sinto bem” e deixa por isso mesmo, ele aponta para a ferida e especifica a sua dor. Falando dos pecados geralmente visíveis, estes podem se tornar facilmente uma tampa para ocultar os pecados secretos.

Este é o tipo de pranto espiritual que nos santifica. Nossas lágrimas não afogam os nossos pecados. Não podemos apenas lamentar, chorar, mas nos arrepender com sinceridade de coração. Veja o que está escrito em Joel 2.12-13: “Ainda assim, agora mesmo diz o Senhor: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, e com ‘choro’, e com ‘pranto’. E rasgai o vosso coração, e não os vossos vestidos, e convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em beneficência, e se arrepende do mal.”

“O que adianta ter um olho aguado e um coração corrompido? Não basta chorar com os olhos, mas chorar com o coração.”

Esta também é a tristeza pelos pecados alheios. A maioria das pessoas está habituada apenas em condenar as pessoas. Estamos preparados para andar com Jesus e repetir seus pronunciamentos de advertências, mas recuamos quando deveríamos nos ajuntar a ele em seu pranto pelo povo (Mateus 23). Leia Marcos 3.5, Filipenses 3.18, Salmo 119.136 e Daniel 9. Não lamentamos sobre a perda da verdade, da integridade e decência em nossa sociedade? Também em nossas igrejas?

Tiago escreve: “Senti as vossas misérias, e lamentai e chorai: converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo em tristeza. Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará.” (Tiago 4.9-10). Esta Bem-aventurança não é um repúdio a alegria, muito menos um incentivo a procura de tristeza permanente. O contexto de Tiago 4 indica que ele está tratando com as pessoas que se tinham tornado irreverente, casual e indiferente ao pecado por causa de seu caso de amor com o mundo. Este, então, é um convite para o arrependimento sóbrio.

Em resumo, ficamos tristes, mas não nos tornamos rabugentos, por vezes ficamos sérios, mas não carrancudos, sóbrios, porém não frios ou proibitivos.

A recompensa: “eles serão consolados.” Essas pessoas trocarão o saco de tristeza por uma veste de louvor, as cinzas de tristeza pelo óleo da alegria. A chave para esta experiência é a prática do perdão. “Dou graças a Deus através de Jesus Cristo, nosso Senhor!” (Romanos 7.25 parte a). “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação; Que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados de Deus. Porque, como as aflições de Cristo abundam em nós, assim também a nossa consolação abunda por meio de Cristo” (2 Coríntios. 1.3-5). O cumprimento final desta promessa é encontrado em Apocalipse 21.4: “E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.”

Por Moisés Carneiro

Bom Caminho

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